ETAPAS VERSUS SENTIMENTOS

A primeira etapa de quem foi convidado para vir trabalhar para Angola, é de expectativa, seguida de cansaço de tanta gente perguntar – quando vais? Já sabes quando vais? É o querer vir o mais rapidamente possível! Fugir de tanta pergunta que dia após dia nos torna mais ansiosos.
A segunda etapa é mesmo constatar a dura realidade de chegar a um aeroporto nacional, que para o qual não tenho uma definição possível, cheio de gente, onde nada importa a não ser o sair para a rua o mais rapidamente possível, não só devido ao calor mas devido ao cansaço da viagem que dura sete horas e meia. Depois de sair, ai sim, é o constatar da dura realidade que é Luanda. Não vou descrever essa realidade que vi e vejo todos os dias, pois tenho sempre esperanças que no dia seguinte as coisas estejam só um pouco melhores. No primeiro dia que aqui cheguei, vinha com mais 3 colegas, a recepção foi feita por um colega local, que tinha como função nos deixar nos hotéis ou em casas previamente alugadas pela empresa. Quando foi deixar o primeiro colega no hotel recomendou-nos que trancássemos as portas enquanto ele não chegasse. Não demorou muito a ter uma cara encostada ao vidro a pedir-me uma “gasosa”, groja ou ajuda de custo, só porque lhe apeteceu. Como eu insistia em dizer que não tinha, resolveu ameaçar-me com um tiro! Ai ficámos que a certeza que a nossa vida em Angola não têm qualquer valor…
Os sentimentos aqui mudam porque?

Esta é a pergunta que todos nós nos fazemos, e para a qual ainda não temos uma resposta exacta. Depois de conversar com varias pessoas umas que já estão cá á anos, outras que estão cá á meses fiquei com a nítida sensação que esta experiência não me vai tornar uma pessoa melhor, antes pelo contrário. Como posso crescer como pessoa, como profissional? Não sei, sinceramente não sei, mas vou descobrir, talvez da pior forma, Winston Churchill disse uma vez: “ Se estiveres a passar pelo inferno…continua a andar”.